Caixas de papelão vazias esperavam para serem preenchidas com a minha vida. O que eu estava esperando? Precisava arrumar tudo! Mas cadê a coragem? Lembranças de um tempo bom invadiram a minha mente, e eu perdi as poucas forças que tinha. Sentei no chão, tombei a cabeça para trás e coloquei os fones de ouvido. Minha mãe logo me gritaria, perguntando pelas caixas. Pelo menos eu não ouviria. Esperaria ela vir até mim, me puxar pelo braço e esfregar meu nariz naquelas malditas caixas de papelão. Resolvi me concentrar nas lembranças... Pelo menos elas me fariam chorar de felicidade. Lembrei-me dos dias mais loucos, guiados ao som de músicas não tão culturais e conversas não tão construtivas. Lembrei-me das tardes sentada à mesa da minha sala escrevendo com um certo amigo escritor. Lembrei-me das tardes e noites gastando dinheiro no shopping com uma certa amiga consumista. Lembrei-me das manhãs, tardes e noites de consolo recíproco com uma certa amiga confusa. Lembrei-me da noite de beijos ao som de MPB... Lembranças lindas que não poderiam ser guardas naquelas caixas de papelão. Eu estava fazendo um esforço enorme para aceitar o fato de que eu teria que guardá-las numa caixa separada, pois aquelas lembranças pertenciam a um tempo o qual não me pertencia mais. Um tempo que já havia passado, e que não poderia ser prolongado. Minha mãe me mandou parar de drama, afinal eu não estava morrendo, e sim apenas me mudando. Pois bem. Afinal, o que são quinhentos quilômetros? Coisa insignificante! Só seis horas de carro, dez de ônibus e quarenta minutos de avião. Besteirinha de nada. Mas pensando bem, é sim uma besteirinha de nada. Pior seria se eu estivesse realmente morrendo. Deus me livre pé de pato, bangalô três vezes! As boas lembranças que naquele momento me consolavam não precisariam ser guardadas. Muito pelo contrário. Elas serviriam para me ajudar a continuar firme pelo novo caminho. Distâncias físicas são sim insignificantes. Eu não vou perder os meus amigos por causa de quinhentos quilômetros, ou vou?! Duvido que vá! E essas lembranças também servirão para eu ter a certeza de que, mesmo que tudo dê errado, eu irei tê-los sempre ao meu lado. Então nada de choro, desespero ou melodrama. Levantei, arrumei e selei as caixas, enxuguei as lágrimas e sorri esperançosa. Afinal, Vitória da Conquista é logo ali, há quinhentos quilômetros!
Mudanças ...
sábado, 11 de dezembro de 2010
Quebra-molas, desvios e placas!
Odeio quebra-molas, desvios e placas! Quebra-molas sempre nos acorda quando estamos naquele sono bom de carro. Desvios sempre nos levam a estradas esburacadas. Placas sempre nos deixam ansiosos e nos dão más notícias. Então volto a afirmar: odeio quebra-molas, odeio desvios e odeio placas! Quebra-molas nos obrigam a reduzir a velocidade, nos obrigam a prestar atenção nos detalhes, nos obrigam a ser cuidadosos. Não se pode viver a vida intensamente com quebra-molas! Desvios são muito ruins, apesar de parecerem bons. Eles nos tiram do caminho que não queremos seguir, mas nos levam a caminhos que não devemos seguir. No final das contas, você acaba fazendo besteira do mesmo jeito! Mas acho que o pior são as placas. Elas nos dão as coordenadas da aproximação de um lugar o qual não queremos ir nem estar. Elas nos mostram o quão errados estamos no caminho. Elas nos mandam reduzir a velocidade. Elas nos impõem suas vontades. ‘Vitória da Conquista há 500 km’, me disse uma placa certa vez. Pra quê eu queria saber? Não já estava indo pra lá de qualquer jeito? Ora bolas! Distâncias são coisas tão insignificantes... O que são quinhentos quilômetros? Nada. Absolutamente nada! Quinhentos quilômetros apenas são a medida de um caminho cheio de quebra-molas, desvios e placas. E eu odeio quebra-molas, desvios e placas.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Perfeição.
Que tal se todo mundo tivesse, realmente, a tampa da sua panela? Que tal se ninguém sofresse por amor? Que tal se não houvesse pobreza nem violência? Que tal se o mundo fosse perfeito? Mas o que é ‘ser’ perfeito? O que é perfeito pra mim pode não ser perfeito pra você. Loiro dos olhos azuis não é o meu tipo, mas é o seu? É o de muita gente. Rico (a), famoso (a) e sexy pode ser a tudo que alguém deseja como parceiro(a). Então a perfeição é formada por desejos? E se os desejos são diferente entre todos, a perfeição também será. Ou não? O que forma a perfeição é um conjunto de desejos, que, na maioria das vezes, não estão reunidos num só elemento. ‘Então deve ser por isso que a perfeição não existe, certo?’. Não, ela existe, só não vende na farmácia. E o mais legal de tudo isso: a perfeição às vezes cansa, porque tudo na vida cansa. Então pra quê buscar a perfeição?! É simples: comodidade.
Vida
Virtudes, ilusões, dúvidas e amor. Por que viver, uma ação simples e involuntária, se torna tão complicado? Por que fazemos de nossas melhores virtudes os nossos maiores pecados? Por que preferimos a ilusão da vontade do que a percepção da felicidade? Por que nos enchemos de dúvidas se as certezas nos são enfiadas pelos ouvidos? E por que diabos o amor nos faz sofrer, se ele é o mais belo dos sentimentos? ‘Mas que tempestade num copo d’água!’, sempre me dizem, ‘Largue de lamúria e vá viver a vida!’. Logo visualizei: a vida era o copo e a tempestade era o amor e todos os seus sintomas. Ri e resolvi me afogar naquele copo.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Cores do dia.
Hoje eu acordei sabendo que o dia iria ser belo. Olhei pela janela e o céu estava azul infinito. Levantei feliz e fui até o jardim apreciar as flores. As rosas estavam lindamente vermelhas a cor da paixão, do sangue. Olhei para o céu mais uma vez, nuvens se aproximavam. Nuvens brancas que me transmitiam uma paz intensa. E o dia seguiu calmo. Às oito da noite vesti a camisa com as cores do dia e rezei. Às dez da noite recebi a confirmação de que o dia realmente fora belo.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Disfarce não tão perfeito - Parceria com Thais Sampaio
Ela estava dormindo tão profundamente que eu fiquei com pena de acordar para me despedir. O que eu estava fazendo ali? Eu havia dormido com a minha melhor amiga. Um detalhe: na noite anterior eu era um gay!
Me arrepender das coisas não era do meu feitio, e eu não estava nem perto do que se chama arrependimento. Eu tinha gostado. E muito! Certo, eu era gay, supostamente. Era um excelente disfarce: eu conquistava todas. Mas nunca me imaginei naquela situação. Ela acreditava que eu era gay. Pelo menos agora eu poderia parar de fingir, certo?! Tanto disfarce, tanto trabalho, tanta preocupação para eu me apaixonar e estragar tudo. eu tinha certeza de que fazer o papel de alguém apaixonado ia acabar me levando para caminhos que eu não queria. E no final, eu acabei me apaixonando de verdade.
Enfim, já estava vestido e caminhando até a porta. O apartamento estava intacto, como sempre. Cheirava a rosas. Stela cheirava a rosas. Achei as chaves do meu carro em cima da mesa do telefone e abri a porta. Quase morri de susto. Era o namorado dela.
- Mário Augusto! – gritei.
- Luiz Otávio! – ele gritou, me abraçando. – Cadê a Stela?
Engasguei e procurei uma desculpa plausível para ele não ir no quarto. Tudo bem, ele achava que eu era gay, mas ele não era burro. E que diabos ele estava fazendo ali?
- O congresso não iria durar uma semana? - perguntei.
- A Suíça estava fria e eu senti falta da minha Stela. – ele pôs a mão no bolso. – Trouxe um presente para ela. Vê o que você acha.
Mário Augusto tirou uma caixinha preta do bolso. Era um anel. Fudeu!
- Nossa! Uma caixa! Tem o que dentro? – ri nervoso.
- Pretendo casar, né? O que mais seria? – riu.
Comecei a pegar meu celular. Até onde minha lembrança ia o da Stela estava do lado dela, no criado-mudo, como de costume. Liguei para ela. Ouvi a musiquinha do Mário (Sim, o do Nitendo!). Esperava desesperadamente que ela acordasse.
- O celular está tocando. – o namorado tolo observou. Quase ofereci um Nobel por ela.
- É, espera, vou atrás dele. – uma ótima desculpa.
Corri antes que ele se convidasse a me acompanhar. Entrei no quarto bruscamente. Stela estava acordada e nua. Quase esqueci o que fui fazer ali.
- Levanta, se veste e vai pra sala com cara de nada. Ou de sono. Tanto faz. – falei jogando um roupão. – Seu namorado está te esperando para te pedir em casamento.
- Hã?!
Olhei para ela, seus cabelos negros caídos sobre seus ombros nus. Respirei fundo.
- Mário Augusto está na sala. – falei pegando meu casaco no chão. – Eu estou indo.
- E nós? – perguntou confusa.
- Nós somos nós, pra sempre. – ri com o canto da boca.
- Você volta? – ela perguntou tentando parecer confortável.
- Eu sempre voltarei pra você. É inevitável.
- Você fala como se isso fosse ruim.
- Pode não ser bom. – ri novamente. – Mas eu não ligo.
- Eu gosto de você.
- Vá logo.
- Você vai ficar por perto? - ela me ignorou.
- Sim. – sorrindo disse.
- Mesmo? – e mordeu os lábios.
- Nada me convence de que estou longe de você, mesmo que eu esteja a milhas de distância. Coisas do coração… Quem entende! – a beijei e saí.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Ressaca divina ! - Parceria com Evelin Beatriz e Anna Luiza Melo
Acabei de acordar, mas minha cabeça estava pesada demais para se afastar do travesseiro. É, eu estava de ressaca. Não exatamente por ter me “acabado” a noite toda. É, talvez eu tenha me acabado. Mas, e daí? Tudo o que foi dito e feito agora estava sendo digerido, juntamente ao álcool, pelo meu organismo. Eu levei o fora? Nem lembro. Não lembro nem como consegui esse hematoma no joelho! Na verdade nem me lembro como cheguei em casa. Será que o modo como cheguei te haver com o hematoma? Oh! Achei outro no braço. Pode ser que o gatinho não era tão fofo e educado assim… Na verdade estava mais para leão, hein? (Eu, com certeza, ainda estou sob o efeito da bebida!).
Que dia é hoje?
“PEEEEN!”
Domingo! Com certeza são os meus pais na porta. E agora?!
Poxa, mas eu sou lerda mesmo! Não poderia pensar sobre tudo isso que acabei de expressar tentando me curar dessa ressaca? Ah, mas meus pais poderiam ter algo para fazer ao invés de vir aqui todo domingo. Esqueci que eles realmente não têm nada a fazer. Droga!
Eu deveria estar tão mal quanto me sentia. Credo! Parecia que eu tinha dormido em uma lata de lixo (Não que eu estivesse fedendo!). Corro e tento parecer doente. Sim, porque, para meus pais, é melhor ter AIDS do que estar bêbada. Que arcaicos!
Passando rapidamente pelo lavabo e engolindo pasta líquida, consegui alcançar a porta sem quebrar nada. Abri-a de vez e me engasguei com o ar.
- Dimitri!
Me virei rapidamente, tentando me recompor, e tinha um cara lindo, loiro, vindo
na minha direção. Quem era ele e o que ele estava fazendo no meu apartamento?
- Não sabia que você estava acompanhada. – Dimitri falou batendo a porta.
Fiquei assustada, mas feliz. Dá uma olhada no que eu consegui bêbada! Sóbria só arranjava caras problemáticos, como o Dimitri. Ressaca divina!
Ops! Esqueci do Dimitri. Espera aí, eu tenho que esquecer o Dimitri! Perdoar um fora daqueles quando se tem um loiro lindo de cueca zanzando na sua casa? Eu acho que não, hein!
Agora só sobrava uma questão importante.
- Qual o seu nome mesmo? – minha voz saiu rouca, ou não saiu. Culpa da bebida, ok?!
- Caio. Não lembra, gata? O irmão da Luana. – ele me falou levantando as sobrancelhas. – Você estava meio doida mesmo ontem à noite. Mas é que você insistiu tanto…
Claro! E daí?
Luana? Ah! A garota do príncipe maluco. Nossa, que irmão gostoso! Ouvi Dimitri abrir a porta do elevador. Uma parte de mim queria correr atrás dele. Que se dane! Um loiro gostoso sorria para mim. E muito provavelmente a parte que queria correr atrás do meu ex estava BÊBADA! Me voltei para o Caio e pedi que esperasse eu me livrar do inconveniente. Eu ia acabar indo atrás do idiota do Dimitri de qualquer jeito! E a melhor parte: ele estava ouvindo tudo! O que foi uma mão na roda, claro, pois me livrei dele mais rápido. Oun tadinho… só não corri atrás dele porque estava de camisola.
Mentira!
Ham?! Eu estava de camisola, com a cara amassada e de ressaca na frente do caio… Que beleza! O que foi revelador, pois o meu vestido sufocante não estava nem a vista. E eu levei quinze minutos para conseguir colocá-lo na noite anterior! Mas por que eu me importava? Eu casaria com o substituto de deus grego sem hesitar!
Passei pelo Caio e fui para o quarto. Ele me seguiu e, de repente, eu nem sabia mais quem era Dimitri.
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