Ela estava dormindo tão profundamente que eu fiquei com pena de acordar para me despedir. O que eu estava fazendo ali? Eu havia dormido com a minha melhor amiga. Um detalhe: na noite anterior eu era um gay!
Me arrepender das coisas não era do meu feitio, e eu não estava nem perto do que se chama arrependimento. Eu tinha gostado. E muito! Certo, eu era gay, supostamente. Era um excelente disfarce: eu conquistava todas. Mas nunca me imaginei naquela situação. Ela acreditava que eu era gay. Pelo menos agora eu poderia parar de fingir, certo?! Tanto disfarce, tanto trabalho, tanta preocupação para eu me apaixonar e estragar tudo. eu tinha certeza de que fazer o papel de alguém apaixonado ia acabar me levando para caminhos que eu não queria. E no final, eu acabei me apaixonando de verdade.
Enfim, já estava vestido e caminhando até a porta. O apartamento estava intacto, como sempre. Cheirava a rosas. Stela cheirava a rosas. Achei as chaves do meu carro em cima da mesa do telefone e abri a porta. Quase morri de susto. Era o namorado dela.
- Mário Augusto! – gritei.
- Luiz Otávio! – ele gritou, me abraçando. – Cadê a Stela?
Engasguei e procurei uma desculpa plausível para ele não ir no quarto. Tudo bem, ele achava que eu era gay, mas ele não era burro. E que diabos ele estava fazendo ali?
- O congresso não iria durar uma semana? - perguntei.
- A Suíça estava fria e eu senti falta da minha Stela. – ele pôs a mão no bolso. – Trouxe um presente para ela. Vê o que você acha.
Mário Augusto tirou uma caixinha preta do bolso. Era um anel. Fudeu!
- Nossa! Uma caixa! Tem o que dentro? – ri nervoso.
- Pretendo casar, né? O que mais seria? – riu.
Comecei a pegar meu celular. Até onde minha lembrança ia o da Stela estava do lado dela, no criado-mudo, como de costume. Liguei para ela. Ouvi a musiquinha do Mário (Sim, o do Nitendo!). Esperava desesperadamente que ela acordasse.
- O celular está tocando. – o namorado tolo observou. Quase ofereci um Nobel por ela.
- É, espera, vou atrás dele. – uma ótima desculpa.
Corri antes que ele se convidasse a me acompanhar. Entrei no quarto bruscamente. Stela estava acordada e nua. Quase esqueci o que fui fazer ali.
- Levanta, se veste e vai pra sala com cara de nada. Ou de sono. Tanto faz. – falei jogando um roupão. – Seu namorado está te esperando para te pedir em casamento.
- Hã?!
Olhei para ela, seus cabelos negros caídos sobre seus ombros nus. Respirei fundo.
- Mário Augusto está na sala. – falei pegando meu casaco no chão. – Eu estou indo.
- E nós? – perguntou confusa.
- Nós somos nós, pra sempre. – ri com o canto da boca.
- Você volta? – ela perguntou tentando parecer confortável.
- Eu sempre voltarei pra você. É inevitável.
- Você fala como se isso fosse ruim.
- Pode não ser bom. – ri novamente. – Mas eu não ligo.
- Eu gosto de você.
- Vá logo.
- Você vai ficar por perto? - ela me ignorou.
- Sim. – sorrindo disse.
- Mesmo? – e mordeu os lábios.
- Nada me convence de que estou longe de você, mesmo que eu esteja a milhas de distância. Coisas do coração… Quem entende! – a beijei e saí.
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